Além dos combatentes da falida guerra de independência húngara de 1848, entre os emigrantes húngaros do século XIX encontramos exploradores, engenheiros, compositores, cientistas e arquitetos, principalmente no México, Argentina e Cuba. Alguns foram com a missão de obter armas para os combatentes húngaros, outros chegaram com o objetivo de levar a cabo pesquisas de ciências naturais e sociais. De suas realizações destacam-se a composição do hino nacional do Uruguai, a fundação da primeira academia militar e da Cruz Vermelha na Argentina, e a renovação do edifício do Hotel dos Imigrantes em Buenos Aires. Os nomes de vários povoados, ruas e estações ferroviárias de hoje levam os nomes destes homens.
Francisco José Debali ou Ferenc József Debály (1791-1859), compositor e diretor de orquestra de origem húngara. Emigrou para o Brasil com sua esposa em 1838, no entanto, em razão da epidemia de febre amarela, mudaram-se para a cidade de Montevidéu. Entre 1841-1848, Debály foi diretor da orquestra Sala de Comédias do Uruguai. Sua obra mais importante é a composição da música do hino nacional do Uruguai “Hino a Cagancha”. Mais tarde, foi convidado a compor também o hino nacional do Paraguai. Em Montevidéu, uma rua leva seu nome. (Uruguai)
János Prágay (1811-1851) revolucionário de 1848. Trabalhou como escrivão para a chancelaria da corte húngara em Viena, e no Ministério da Defesa em Peste. Terminou a guerra de independência com o grau de tenente coronel. Exonerado de sua função, partiu para o exterior e tentou chegar por via terrestre à Califórnia dominada pela febre do ouro. Existem provas escritas de que visitou o México. Depois, dirigiu-se aos Estados Unidos onde fez amizade com o revolucionário cubano de origem venezuelana, Narciso López, que havia tentado várias vezes derrotar o domínio espanhol em Cuba, sem êxito. Prágay se uniu à nova expedição de López durante a qual recebeu o grau de general e a posição de chefe de estado maior. Faleceu em batalha ao lado de Las Pozas. (México, Cuba)
Sándor Asbóth (1811-1868) revolucionário de 1848. Amigo de János Czetz. Emigrou primeiro para a América do Norte, no entanto, chegou à Argentina como delegado extraordinário. Lutou na guerra civil estadunidense, onde feriu-se na cabeça. Faleceu em Buenos Aires. No cemitério de Buenos Aires ergueu-se um monumento em sua homenagem e o Muro dos Heróis tem seu nome. (Argentina)
Conde Samu Wass (1814-1879) político. Foi enviado aos Estados Unidos por Lajos Kossuth, com o fim de conseguir mais armas para a Hungria. Do Brasil enviou armas aos revolucionários mas, com sua vida em perigo, viu-se obrigado a fugir. (Brasil)
Károly László (1815-1894) capitão de artilharia. Foi secretário de Lajos Kossuth durante seu exílio na Turquia. Topógrafo de propriedades estatais no México realizou viagens e informou sobre suas experiências na Revista do Domingo (Vasárnapi Újság). Posteriormente, regressou à pátria com sua esposa, filha do cônsul de Laguna. Seus diários, informes e fotografias são fontes importantes por apresentar as paisagens, a geografia e a sociedade dessa região no século XIX. (México)
László Magyar (1818-1864): explorador geográfico. Em 1843, fez-se cadete naval e chegou ao Brasil em um barco do correio austríaco. Em 1845, chegou a ser tenente da frota do Estado La Plata na guerra de La Plata e Uruguai. (Brasil, Argentina, Uruguai)
Elek Vajna Pávai (1820-1874) paleontólogo, geólogo, professor universitário em Cluj-Napoca. Como geólogo participou da segunda expedição sul-americana de Wilke e observou a vida silvestre e a composição geológica das bacias de minério brasileiras. Regressou a sua pátria pela Índia. (Brasil)
Károly Kornis (1822-1863) jurista e historiador, chegou ao Brasil após a derrota da guerra de independência de 1848, onde abriu um atelier de fotografia. Tornou-se fotógrafo oficial da Controladoria. Ao aprender o português, trabalhou como assessor jurídico para a representação diplomática do Brasil. Participou como advogado no julgamento da herança do milionário brasileiro Visconde de Villa Nova. Manteve amizade inclusive com o imperador Dom Pedro. Foi considerado no Brasil um grande jurista profissional. Era uma pessoa multifacetada. Lutou pelos direitos dos colonos; importou vinhos húngaros e publicou vários estudos em temas de direito, latim e matrimonio civil. (Brasil)
János Czetz ou Juan Fernando Czetz (1822-1904) general de 1848, instalou-se na Argentina. Fundador (1868) e diretor durante 25 anos do Colégio Militar de la Nación, primeira academia militar da Argentina que segue funcionando hoje em dia. Ademais, trabalhou em construções ferroviárias na Argentina; lutou em batalhas contra indígenas e participou da construção da linha de defesa do Sul e do telégrafo militar do país. Sua memória está guardada na Academia Militar. (Argentina)
Gábor Naphegyi (1824-1884) bon vivant, aventureiro. Fugiu para os Estados Unidos onde, nos primeiros anos, dava conferências e desenhava. Foi médico no hospital militar de Veracruz e trabalhou como engenheiro na construção da iluminação pública a base de gás. Possuía ações de uma fábrica de açúcar e de uma mina mexicana. Segundo a descrição do jornal americano Times-Picayune – baseada na narrativa do companheiro de Naphegyi, László Újházy – Gábor Naphegyi não falava bem húngaro e tampouco chegou aos Estados Unidos ou à América Latina com a onda de refugiados do ano de 1848. (México)
Imre Radnich (1824-1903) engenheiro e revolucionário. Após a derrota da guerra de independência de 1848, foi para os Estados Unidos onde se uniu ao exército organizado por Narcisco López. Após os enfrentamentos em Cuba, os espanhóis o capturaram e o encarceraram em Ceuta. Foi liberado e regressou, pelo México, aos Estados Unidos onde lutou na guerra civil. (Cuba)
János Xántus (1825-1894) militar, cientista naturalista. Sendo jovem, solicitou isenção do serviço militar para poder dedicar todo seu tempo ao estudo da fauna e da flora. Como resultado, realizou observações meteorológicas e de correntes marinhas no Oceano Pacífico no marco do Coastal Survey estadunidense, perto do México, na função de capitão da faculdade de engenharia naval dos Estados Unidos. Posteriormente, trabalhou como secretário do ministério Naval em Washington e a chancelaria estadunidense o nomeou cônsul na cidade de Manzanillo no México. Renunciou ao cargo antes de regressar definitivamente a seu país. (México)
Bódog Félix Nemegyei (1826-1904) comandante da guerra de independência de 1848, engenheiro militar. Após a de 1848, realizou pesquisas sobre o México junto com Pál Szontágh e Károly László. Seus estudos se concentraram no Istmo de Tehuantepec onde realizaram trabalhos cartográficos com a finalidade de construir uma linha férrea transcontinental. Além disso, participou do planejamento prévio à construção do Canal de Panamá. (México, Panamá)
Lajos Schlesinger (1827-1898) esteve com János Prágay no serviço militar; lutou no exército de Narcisco López, porém foi capturado pelos espanhóis em uma batalha. Conseguiu escapar. Casou-se com a filha de um proprietário de terras rico de El Salvador e tornou-se um dos representantes da companhia estadunidense American Atlantic and Pacific Ship Canal Company em El Salvador. (Cuba, El Salvador)
Pál Rosti (1830-1874) geógrafo, etnógrafo, fotógrafo. Após a guerra de independência húngara de 1848, fugiu primeiro para Munique e depois para Paris. Em 1856, viajou para os Estados Unidos onde passou 2 anos e meio, e estudou a população centro-americana. Suas aventuras e experiências foram publicadas em 1861 na obra intitulada “Memórias de uma viagem pela América”. Ele foi o primeiro a tirar fotografias do Novo Mundo (Cuba, México). Sua coleção de registros se encontra no Museu Memorial Eötvös Lóránd na cidade húngara de Tihany. (Cuba, México)
Elemér Mayer ou Eldelmiro Mayer (1834-1897), húngaro de segunda geração, nasceu em Buenos Aires. Participou da guerra civil dos Estados Unidos. Ao fim da guerra, retirou-se e traduziu para o espanhol todos os poemas de Edgar Allan Poe, assim como a biografia de Poe escrita por Ingram. No México, entrou para o exército e, posteriormente durante a liberação de Cuba, participou do conselho revolucionário. Ao fim de sua vida, estabeleceu-se em Buenos Aires onde trabalhou como engenheiro ferroviário e foi nomeado governador de Santa Cruz. (Argentina, Cuba, México)
Móricz Mayer ou Mauricio Mayer (1842-1917), comandante. Chegou a Argentina como companheiro de János Czetz. Trabalhou na construção de estradas de ferro e fundou a Cruz Vermelha argentina. Um povoado e sua estação de trem na província de La Pampa levam seu nome. (Argentina)
János Dániel Anisits (1856-1911): farmacêutico, biólogo, botânico, pesquisador. Obteve o diploma de farmacêutico na universidade de Budapeste e emigrou para o Paraguai. Foi diretor do Laboratório Central Químico e Bacteriológico de Assunção e foi também professor e chefe do Departamento de Botânica e Zoologia do Colégio Nacional do Paraguai. Realizou estudos de exploração durante duas décadas ao largo do rio Paraguai na área de Mato Grosso quando descobriu 30 novas espécies de palmas e cactos. (Paraguai)
János Kronfuss (1872-1944): arquiteto húngaro que estudou em Viena e em Munique. Participou da renovação do Hotel dos Imigrantes. O Hotel dos Imigrantes se localizava no porto de Buenos Aires e serviu, até 1953, para receber, hospedar e distribuir os imigrantes que chegavam da Europa e de outras partes do mundo. Os imigrantes ao chegarem ao porto de Buenos Aires entravam primeiro nessa instituição para registrarem-se. Atualmente, o edifício é um monumento histórico nacional e hospeda uma exposição permanente sobre as ondas migratórias que chegaram a Argentina. (Argentina)
Jolán Jósa (1881-1950): escritora, maestra, viajadora. Com seu marido, Jenő Babarczy, mudou-se para o Paraguai. Jolán Jósa estudou taxidermia para, durante suas viagens, recolher amostras por solicitação do Museu Nacional da Hungria para a coleção de animais do museu. Ocupou-se, igualmente, de composição musical e escreveu obras teatrais. Seus artigos e relatos de viagem falam principalmente da América do Sul e de seus costumes e tradições. Sua obra de aproximadamente 500 páginas sobre o Paraguai ainda não foi publicada. (Paraguai)
András Kálnay (1893-1982) e György Kálnay (1894-1957) arquitetos reconhecidos, realizaram seus estudos na Faculdade de Arquitetura da Universidade Politécnica Húngara József Királyi. Foram desenhadores e construtores de vários edifícios emblemáticos de Buenos Aires. Os mais conhecidos são: o edifício do Diário Crítica, que foi construído para ser editora de jornal e hoje é edifício de polícia, o edifício do Gran Cine Florida, a Cervejaria Munique, o Cineteatro Broadway, que ainda funciona, e o edifício de Beit Jabad situado em Puerto Madero. Além disso, inclui-se nessa lista o Palácio de los Deportes / Luna Park, até hoje uma sala de eventos muito popular. (Argentina)
János Décsy (? - ?) um dos oficiais da Guerra de Independência húngara de 1848 também chegou em 1854 e foi professor na cidade de Petrópolis, residência do imperador. Em 1864, participou do recrutamento de São Paulo e, dois anos depois, uniu-se à operação militar do exército contra o Paraguai. Coroando sua carreira militar, chegou a ser presidente da colônia de Itajaí. (Brasil)
Imre Verebélyi (?- ?) dirigiu construções de portos na Costa Rica e na Nicarágua. Ajudou a elaborar os planos de construção do porto de San Juan del Norte. Elaborou um plano de construção para cortar o istmo entre América do Norte e América do Sul. Segundo o plano, dever-se-ia ter cortado o istmo na região da Nicarágua para facilitar a comunicação com a Ásia. Finalmente, a construção do canal foi feita no Panamá. (Costa Rica, Nicarágua)